(Recorte da Emissão Postal Especial – Cientistas Brasileiros: Cesar Lattes e Johanna Döbereiner – Edital nº 18/2018. Arte: Adriana Shibata)
Johanna Döbereiner: a cientista que revolucionou a agricultura, nasceu no dia 28 de novembro de 1924
Johanna Liesbeth Kubelka Döbereiner nasceu em Aussig, na antiga Tchecoslováquia, mas foi no Brasil que fincou suas raízes. No município fluminense de Seropédica, no interior do Rio de Janeiro, ela se estabeleceu e criou os três filhos – Maria Luísa (Marlis), Christian Erhard e Lorenz. Foram 48 anos na mesma casa, na Rua Colina, ao lado do marido, o médico veterinário Jürgen Döbereiner. Naturalizada brasileira em 1956, ela chegou ao Rio de Janeiro em 1950, depois de anos turbulentos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.
Sua mãe, Margarethe Kubelka, havia morrido em um campo de concentração tcheco – um dos muitos que foram formados na então Tchecoslováquia após o conflito, em perseguição a alemães e à parcela da população do país que havia recebido a nacionalidade alemã no início da guerra. Mas sua força já havia sido transmitida para Johanna. “Não devemos falar para nossa filha que seu destino estará alcançado quando encontrar um marido. Devemos dizer à nossa filha que sua vitória foi atingida quando se orgulhar do que realizou”, escreveu Margarethe em seu diário.
Pouco depois da morte de Margarethe, a família continuou a sofrer a perseguição dos tchecos, sendo expulsa do País em 1945. O pai, Paul Kubelka, deixou Praga acompanhado do irmão de Johanna, Werner. Ela, por sua vez, seguiu para a Alemanha com os avós, deixando para trás a cidade em que vivera desde a infância e onde por vezes acompanhara o pai nas aulas de Química que ele ministrava na Universidade de Praga.
O contato com a agricultura se deu em meados da década de 1940, quando conseguiu um emprego como operária rural em Sadisdorf, na região alemã de Dresden. Era plantando batatas e ordenhando vacas que ela garantia o salário para manter a si e a seus avós, que vieram a falecer ainda em 1945. Talvez inspirada pela força e pela educação que sua mãe lhe dera, decidiu contrariar as convenções de gênero e matriculou-se no curso de Agronomia da Universidade de Munique – área de difícil abertura para mulheres. Custeava os estudos trabalhando no campo, em uma fazenda que produzia variedades melhoradas de trigo, onde também se preparou para fazer as provas práticas exigidas para o ingresso no curso.
A faculdade deu certeza à Johanna do caminho que iria trilhar. Foi ali que ela conheceu Jürgen, companheiro de longos anos, e quando desembarcou no Brasil, em 1950, seguindo os passos do pai, foi com o diploma de agrônoma nas mãos que ela chegou ao Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola do Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas. Confessou que não aprendera nada prático na universidade, devido às limitações do pós-guerra, mas que tinha muita vontade para aprender o que fosse preciso. Foi contratada na hora.
Mas foi nas terras brasileiras que Johanna diz que aprendeu de verdade a fazer ciência. Em 1957 já era pesquisadora assistente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, em 1968, pesquisadora conferencista. Entre 1963 e 1969, quando poucos cientistas acreditavam que a fixação biológica de nitrogênio poderia competir com fertilizantes minerais, Johanna deu início a um programa de pesquisas sobre os aspectos limitantes da técnica em leguminosas tropicais.
Destacou-se, conquistou o respeito de seus pares e, aos poucos, tornou- se mundialmente reconhecida pelo seu trabalho. Mas era modesta. Não titubeava ao responder quando alguém lhe perguntava como era sua vida de pesquisadora: “Não tem nada de mais na vida de um cientista. É rotina como outra qualquer. Só que meu escritório é um laboratório. Sou uma camponesa no laboratório.”
Tal dinamismo não foi ofuscado pelos anos de vida. Fosse aos 30 ou aos 70, Johanna mantinha o brilho no olhar, a rigidez na apuração dos dados e a convicção de que somente a ciência e a busca pelo conhecimento poderiam contribuir para uma agricultura mais sustentável. “Tenho ideias para mais 50 ou 60 anos. Não vou viver tudo isso. Temos que trocar informações e conhecimentos. A ciência precisa disso”, afirmou, já no auge da sua carreira.
Liliane Bello, Jornalista – Núcleo de Comunicação Organizacional | Embrapa Agrobiologia
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